Há coisas que só se comem em casa de mães, sejam elas mães, avós, tias, madrinhas, mães de amigos ou senhoras da terra. Apercebi-me disso há algum tempo, desde os dias em que comecei a cozinhar às escondidas, quando a minha Mãe não estava em casa. Assim nasceram os bolos de chocolate do Tio Patinhas, os scones com a receita dos paizinhos da Avó Hortense e muitas outras coisas que fomos experimentando. Em qualquer saída da minha Mãe, lá nos atirávamos ao forno e ao fogão, porque a cozinha era território privativo da minha Mãe - 'Muito ajuda quem não atrapalha!'. Sempre foi assim. Mas aprendemos a ver fazer, a olhar atentas a movimentos demasiado rápidos para podermos decorar as quantidades e os jeitos de mão, mas alguma coisa terá ficado. Acredito que sim, nem que seja o prazer de cozinhar e de receber em casa os amigos.
Depois, cresci e fui ganhando um sem número de cozinhas por empréstimo. A das casas dos amigos, as das casas onde parávamos ao fim-de-semana ou nas férias. E hoje tenho aquela a que chamo, orgulhosamente, a minha cozinha! Pequenina, mas minha! (nossa!)
A verdade é que há pratos que nunca fiz e que ando sempre à espera de ir comer a casa de uma mãe. Sei mais ou menos o que comer em cada casa, porque cada uma tem a sua especialidade. E muitas vezes telefono a pedir a ementa ao meu gosto.
Mas, na minha cozinha, nunca se fizeram esses pratos. Aposto que consigo, mas ainda não fiz. Tenho-me dedicado mais às inovações, aos pozinhos de perlimpimpim para criar coisas novas, receitas pedidas e achadas.
Agora nasceu em mim uma enorme vontade de me lançar nessas tradições e de recuperá-las para o meu dia-a-dia. Não que me sobre muito tempo para me dedicar às artes da culinária, mas arranja-se sempre.
A minha Mãe lidera a lista e é a melhor cozinheira do mundo, para mim. Tudo o que faz sai bem. Do que tenho mais saudades é do coelho à caçador, das pizas caseiras, do peixe assado no forno e do bacalhau à lagareiro em doses nunca suficientes. Mas há por aí muitas mães, em muitas cozinhas, que fazem as delícias do meu coração: da Teresa, o cozido e a sopa dele, da Fernanda, o polvo à lagareiro e o arroz doce acabadinho de fazer, das 'Tias', as monhezadas e a tarte da Anke, do Tio João, o pica-pau, da Pantufa, o arroz de pato (tão bom como o da minha mãe!), da mana Ana, os scones gigantes, da mana Pipa, os bolos de chocolate, da tia Xuxu, o pato da Noruega, da Tia Ana, o gelado de morango, da Gigi, a tarte de chocolate, da Maria, a ilha dourada, as perdizes e os biscoitos, da Sandy, o pão com coentros e muitas iguarias ainda à espera de provar, da Avó Dá, as favas com entrecosto e quase tudo o que sai daquelas mãos de fada, da prima Inês, os quilos de percebes ao pôr-do-sol, da Ana, as ervilhas com ovos escalfados e a canjinha melhor que já comi, da Tia Guida, aquele doce de ovos, do Pedro, as batatas à fim-de-semana e as massas deliciosas sempre al dente, da Avó Lena, a uvada melhor do mundo, enfim... Estou rodeada de cozinheiros e cozinheiras famosos. Muito aprendi com eles, ajudando e fazendo também.
Gosto das cozinhas, palco de confidências e conversas, de risadas, de noitadas ao fogão e tardes à panela para o doce não pegar. Gosto da minha cozinha, mas também das cozinhas dos outros, onde me sento na bancada, no banquinho, ou me passeio a ver o que anda entre os tachos e panelas.
As casas das mães são as melhores escolas de culinária, porque ali se cozinha com carinho e com dedicação, para uma família que ao fim do dia se reúne, que ao fim-de-semana chega toda para recordar aqueles sabores a que desde sempre se esteve habituado. Sei o cheiro da cozinha da minha Mãe, gosto de chegar e de adivinhar, de saber que são os bifes com mozarella, ou então os recheados, o arroz de tomate ou as bolinhas de bolacha, que mesmo sem terem cheiro adivinhamos o seu lugar escondido, numa gaveta do frigorífico, e roubamos um ou duas, deixando o papel como prova do crime. Gosto das cozinhas das mães porque estamos sempre como se estivéssemos em casa, sabemos sempre que vamos comer bem e que há sempre lugar para mais um ou dois, numa mesa posta a rigor, onde a ternura é, afinal, o prato principal.
Depois, cresci e fui ganhando um sem número de cozinhas por empréstimo. A das casas dos amigos, as das casas onde parávamos ao fim-de-semana ou nas férias. E hoje tenho aquela a que chamo, orgulhosamente, a minha cozinha! Pequenina, mas minha! (nossa!)
A verdade é que há pratos que nunca fiz e que ando sempre à espera de ir comer a casa de uma mãe. Sei mais ou menos o que comer em cada casa, porque cada uma tem a sua especialidade. E muitas vezes telefono a pedir a ementa ao meu gosto.
Mas, na minha cozinha, nunca se fizeram esses pratos. Aposto que consigo, mas ainda não fiz. Tenho-me dedicado mais às inovações, aos pozinhos de perlimpimpim para criar coisas novas, receitas pedidas e achadas.
Agora nasceu em mim uma enorme vontade de me lançar nessas tradições e de recuperá-las para o meu dia-a-dia. Não que me sobre muito tempo para me dedicar às artes da culinária, mas arranja-se sempre.
A minha Mãe lidera a lista e é a melhor cozinheira do mundo, para mim. Tudo o que faz sai bem. Do que tenho mais saudades é do coelho à caçador, das pizas caseiras, do peixe assado no forno e do bacalhau à lagareiro em doses nunca suficientes. Mas há por aí muitas mães, em muitas cozinhas, que fazem as delícias do meu coração: da Teresa, o cozido e a sopa dele, da Fernanda, o polvo à lagareiro e o arroz doce acabadinho de fazer, das 'Tias', as monhezadas e a tarte da Anke, do Tio João, o pica-pau, da Pantufa, o arroz de pato (tão bom como o da minha mãe!), da mana Ana, os scones gigantes, da mana Pipa, os bolos de chocolate, da tia Xuxu, o pato da Noruega, da Tia Ana, o gelado de morango, da Gigi, a tarte de chocolate, da Maria, a ilha dourada, as perdizes e os biscoitos, da Sandy, o pão com coentros e muitas iguarias ainda à espera de provar, da Avó Dá, as favas com entrecosto e quase tudo o que sai daquelas mãos de fada, da prima Inês, os quilos de percebes ao pôr-do-sol, da Ana, as ervilhas com ovos escalfados e a canjinha melhor que já comi, da Tia Guida, aquele doce de ovos, do Pedro, as batatas à fim-de-semana e as massas deliciosas sempre al dente, da Avó Lena, a uvada melhor do mundo, enfim... Estou rodeada de cozinheiros e cozinheiras famosos. Muito aprendi com eles, ajudando e fazendo também.
Gosto das cozinhas, palco de confidências e conversas, de risadas, de noitadas ao fogão e tardes à panela para o doce não pegar. Gosto da minha cozinha, mas também das cozinhas dos outros, onde me sento na bancada, no banquinho, ou me passeio a ver o que anda entre os tachos e panelas.
As casas das mães são as melhores escolas de culinária, porque ali se cozinha com carinho e com dedicação, para uma família que ao fim do dia se reúne, que ao fim-de-semana chega toda para recordar aqueles sabores a que desde sempre se esteve habituado. Sei o cheiro da cozinha da minha Mãe, gosto de chegar e de adivinhar, de saber que são os bifes com mozarella, ou então os recheados, o arroz de tomate ou as bolinhas de bolacha, que mesmo sem terem cheiro adivinhamos o seu lugar escondido, numa gaveta do frigorífico, e roubamos um ou duas, deixando o papel como prova do crime. Gosto das cozinhas das mães porque estamos sempre como se estivéssemos em casa, sabemos sempre que vamos comer bem e que há sempre lugar para mais um ou dois, numa mesa posta a rigor, onde a ternura é, afinal, o prato principal.
Nota: Este texto nasceu depois de um almoço em casa da Ana, umas deliciosas ervilhas com ovos escalfados (como não comia há séculos!) e um delicioso leite creme de sobremesa. Obrigada!